Ela começou sua carreira no mundo dos esports de forma despretensiosa, jogando Counter-Strike. Naquela época, ser uma pro player nem era visto como uma profissão de verdade. Como muitos outros, ela conciliava o jogo com a escola, faculdade e trabalho. As premiações eram baixas, e salário para jogador, então, nem pensar! Mas, à medida que o cenário se profissionalizava e novas organizações surgiam investindo em times, ela percebeu que esse hobby poderia se transformar em uma carreira real. E foi exatamente o que aconteceu.
Showliana não é apenas uma jogadora de sucesso; ela se tornou uma referência para outras mulheres no cenário dos esports. Ela relembra com carinho o início de tudo e se emociona ao perceber que, hoje, muitas jovens jogadoras se inspiram em sua trajetória. "Saber que fui inspiração para tantas meninas começarem a jogar faz tudo valer a pena", diz ela. Na época em que começou, o cenário feminino era pequeno e escasso de players, mas sua persistência ajudou a abrir portas para muitas outras.
Quando perguntada sobre as vitórias mais especiais da carreira, Showliana destaca o período em que jogou com a lineup do Time das Lindas no CS. Durante três anos, o time se manteve invicto em todos os campeonatos que disputaram no Brasil, uma conquista que até hoje carrega com muito carinho e orgulho. Essa foi uma fase importante de sua carreira, que marcou sua força no cenário brasileiro.
Durante a pandemia, Showliana fez uma transição significativa em sua carreira: migrou do CS para o Valorant, um jogo que estava começando a ganhar destaque na cena competitiva. A decisão de mudar veio, em parte, pela falta de campeonatos femininos no CS, e também pelo grande investimento que a Riot Games trouxe ao lançar o Valorant, principalmente no cenário inclusivo. "Foi uma experiência bem legal", comenta ela sobre a mudança, mas admite que não foi fácil. No começo, seu time teve que reaprender muita coisa. "Levou um tempo para entendermos que não dava para jogar Valorant como se fosse CS", relembra, destacando as diferenças de meta e o processo de evolução que viveu junto com o cenário competitivo do novo jogo.
Embora ambos sejam FPS (First Person Shooter), Showliana vê muitas diferenças entre o CS e o Valorant. No Valorant, os jogadores precisam prestar muita atenção às habilidades e táticas utilizadas durante a partida, o que demanda uma complexidade extra em comparação com o CS, que ela considera mais direto e "sincero" no quesito trocação. Ela também observa que a comunidade de CS tende a ser mais madura, enquanto a do Valorant atrai um público mais jovem.
Showliana teve a oportunidade de jogar por times internacionais renomados, como Dignitas e Evil Geniuses na América do Norte, e mais recentemente jogou pela KRU Blaze na LATAM (agora está no MIBR de CS2). Jogar em diferentes regiões trouxe novos desafios, tanto dentro quanto fora do servidor. A comunicação foi uma barreira, principalmente no início, já que dominar a linguagem de jogo em outro idioma leva tempo e prática. Além disso, Showliana compartilha que a cultura esportiva nos EUA era bem diferente do Brasil. "No NA, senti que, para muitos jogadores, o time significava apenas um salário no fim do mês", comenta, contrastando com a garra e dedicação que sente entre os jogadores brasileiros.
A adaptação ao estilo de jogo e à cultura dos times internacionais foi um processo cheio de aprendizados. Ela percebeu que, enquanto a mira dos jogadores brasileiros era muito boa, o entendimento de jogo e os fundamentos eram mais desenvolvidos no cenário norte-americano. Mas no final, Showliana sempre retorna ao que a conecta com suas raízes: o senso de pertencimento e a paixão dos jogadores brasileiros. “Se fosse para escolher, eu escolheria um time brasileiro todas as vezes”, afirma com convicção.
Quando o assunto é o futuro, Showliana está firme no propósito de continuar jogando enquanto sentir que há espaço para ela no cenário competitivo. "É o que eu amo fazer e no momento não me vejo fazendo nada diferente disso", diz. O compromisso e a paixão pelos esports ainda a movem.
Para as meninas que sonham em seguir uma carreira nos esports, Showliana deixa um conselho importante: "Não romantizem a carreira de pro player, porque é uma vida cheia de incertezas e sacrifícios". Ela ressalta que é uma carreira que exige não apenas habilidade, mas também resiliência, bom networking e um forte senso de equipe. Acima de tudo, é preciso dedicação e estar no lugar certo, na hora certa. "Se você tem certeza de que a sensação de vitória é o que importa, não desista. Quando dá certo, vale muito à pena", finaliza.